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Os “Tigres Asiáticos” - Um nova potência industrial
Cingapura, Coréia do Sul, Taiwan e Hong Kong, cidade reincorporada à China em 1997, são internacionalmente conhecidos como “tigres asiáticos”. Isso se deve à grande prosperidade econômica, sobretudo industrial, que alcançaram nas últimas décadas, com algumas das mais elevadas taxas de crescimento do mundo.
São Estados ou regiões que eram considerados pobres até a década de 1960, quando tinham indicadores sócio-econômicos semelhantes ou muitas vezes inferiores aos do Brasil, da Venezuela, do México, da África do Sul, da Colômbia e de outros países do sul, mas que nas últimas décadas conheceram sensíveis melhoras econômicas e até sociais.
A força do trabalho disciplinada, qualificada (os sistemas educacionais são de ótima qualidade e acessíveis à maioria da população nesses países) e inicialmente barata foi incentivo para o crescimento dessas economias. Mas também outros fatores tiveram sua importância, como os incentivos ao capital estrangeiro, a localização estratégica, o enorme esforço governamental para promover a industrialização gastando de eficiente os seus recursos etc.
O crescimento econômico dos “tigres” teve como base a internacionalização, a preocupação com o mercado exterior. Suas exportações de bens industrializados, no início tecidos, roupas, brinquedos, bugigangas eletrônicas etc, e depois, nos anos 1980, aparelhos de videocassete, relógios a pilha, bicicletas, gravadores, aparelhos de TV em cores, automóveis e até microcomputadores, vêm se multiplicando a cada ano, sendo absorvidas em especial pelo mercado consumidor da América do Norte e da Europa.
A Coréia do Sul, com 99.484 km2 e 46 milhões de habitantes é o maior e o mais povoado dos “tigres asiáticos”. Cingapura, uma Cidade-Estado com apenas 618 km2 e 3,5 milhões de habitantes, é o menor e menos povoado dos tigres, sendo também o local de maior renda per capta e qualidade de vida em geral. Formosa ou Taiwan (ou ainda China Nacionalista), com 35.981 km2 e 21,8 milhões de habitantes, fica numa posição intermediária. Já a região ou cidade de Hong Kong, com apenas 1.067 km2 e 6,3 milhões de habitantes tem uma posição original na medida em que não é um Estado independente.
Hong Kong tem uma renda per capta e uma qualidade de vida em geral muito maior que o restante da China, sendo uma cidade moderna e ocidentalizada, com uma vida econômica própria e independente de Pequim. Quando das negociações com o Reino Unido para devolução de Hong Kong, a China se comprometeu a não interferir nessa cidade durante pelo menos 50 anos, o que significa até 2047.
A China não pretendeu simplesmente anexar Hong Kong ao seu sistema de governo e à sua economia, o que poderia provocar a fuga de capital e um retrocesso econômico, mas sim dar-lhe uma certa autonomia, principalmente com relação à sua política econômica.
O governo chinês organizou um conselho administrativo nessa área, com a participação de representantes locais e autoridades chinesas, para que a mudança administrativa não cause descontentamento na população e muito menos fuga de capital.
Afinal, grande parte da economia de Hong Kong é dependente da confiança dos investidores internacionais. A Coréia do Sul também enfrenta um problema de política externa. Ela separou-se da Coréia do Norte em 1954, porém, inúmeros coreanos ainda sonham com a reunificação das duas Coréias. Por isso, o governo sul-coreano se preocupou tanto em promover um rápido crescimento industrial.
Assim, quando a Coréia do Sul tiver de ceder às pressões para reunificação, terá um poderio econômico bem maior que a porção norte da Coréia, algo que já é inegável. Isso lhe trará vantagens nos acordos para essa eventual união por meios diplomáticos. Até mesmo Taiwan enfrenta uma enorme questão geopolítica. A vizinha China não aceita até hoje a independência do país.
A China nunca aceitou a separação de Formosa, e os conflitos entre os dois países sempre existiram, de 1949 até hoje. A situação ficou mais difícil para Formosa quando a China saiu de seu isolamento e abriu-se para o capitalismo internacional, o que começou por volta de 1974-1976. Considerando a importância da China, os Estados Unidos, que até então estava, ao lado de Formosa, resolveram restabelecer relações diplomáticas com os chineses e romper A ilha de Formosa, que já fez parte da China, proclamou sua autonomia em 1949, sob o nome de República da China Nacionalista.
Nessa ocasião, as tropas de Chang Kai-Chek, que chefiava o governo da China, foram derrotadas pelas forças comunistas de Mao Tse-tung. Com a derrota, Chang Kai-Chek e suas forças, acabaram se refugiando nessa ilha situada a leste da China, formando aí um novo governo e proclamando sua independência. com Taiwan. Em 1971, Taiwan retirou-se da ONU (Organização das Nações Unidas), pois a República Popular da China foi aceita nessa instituição por seus países membros. Como o governo chinês exigia que seu país fosse o único representante da China na ONU, Taiwan teve de sair. Nos últimos anos, a China já propôs várias vezes que representantes das duas partes se reunissem, visando chegar a um acordo para a reunificação dessa ilha com a Nação chinesa.
O governo de Taiwan, contudo, sempre recusou essa proposta, alegando incompatibilidade de sua economia capitalista com o socialismo chinês. No entanto, a atual política de abertura de China para o capitalismo enfraqueceu esse argumento, o que coloca dúvidas em relação ao futuro de Formosa como Nação separada do restante da China. Entretanto, inúmeras pesquisas de opinião pública realizadas nos últimos anos em Taiwan mostraram que a maioria da população não se considera mais chinesa e não quer de maneira nenhuma voltar a fazer parte da China.
Industrialização e nível de vida dos “Tigres Asiáticos
Já vimos que nos anos 1970 a força de trabalho barata e com altos índices de alfabetização foi importante para o rápido crescimento industrial dos ‘tigres’, cujas economias estão voltadas basicamente para abastecer as nações mais desenvolvidas do mundo. A média de trabalho semanal nesses países vai de 48 horas, no mínimo, a 53 horas. Só se descansa aos domingos. As férias, tiradas uma vez por ano, duram apenas 14 dias e o número de feriados é extremamente pequeno. Como você pode ver, a jornada de trabalho é intensa, muito maior que nos países capitalistas desenvolvidos. Além disso, a população desses países foi submetida até há pouco tempo a um regime político autoritário, em que não havia eleições democráticas e imperavam sérias restrições ao direito de greve. Contudo, a qualidade de vida da população nesses países, inclusive da classe trabalhadora, é em geral, melhor que nos países do sul.
Quase toda a população vive em casa própria e o número de televisores e outros eletrodomésticos, por família, é bem maior que na América Latina, na África e no restante da Ásia (com exceção do Japão). A assistência médica é gratuita e as taxas de analfabetismo são baixas (2% em Formosa e na Coréia do Sul, 4% em Cingapura e 7% em Hong Kong).
A média salarial é baixa, se comparada com a dos países do Norte, mas é maior que a que prevalece nos países do Sul. O salário industrial médio dos ‘tigres’ é de U$ 800,00 por mês, sendo que o salário mínimo varia de 280 até 500 dólares. Usando um termo de comparação, basta lembrar que o salário industrial médio no Brasil é de 300 dólares,e o mínimo é superior 100 dólares.
É lógico que o Brasil não é o melhor exemplo de salários na América Latina, mas indiscutivelmente a situação atual nos ‘tigres asiáticos’, apesar de inferior aos países desenvolvidos em geral, está acima da média dos países do Sul. Dessa forma, existe nesses países um modelo de desenvolvimento industrial baseado na exploração do trabalhador e nas exportações.
Daí eles serem também chamados de “plataformas de exportação”. Isso, porém, não vem resultando numa violenta concentração social da renda, como ocorre em países como Brasil e a África do Sul. Ao contrário, os salários em geral subiram mais que a inflação nesses países, durante mais de 15 anos seguidos e com isso o poder aquisitivo da maioria da população aumentou, expandindo assim o mercado interno desses países.
Um pouco de História
Cingapura - Durante séculos, a ilha de Cingapura foi uma área pantanosa ocupada por pescadores que pertencente ao sultanato de Johore, no sul da Malásia. Em 1819, instala-se a Companhia Britânica das Índias Orientais, funda ali um entreposto comercial. Em 1826, a companhia incorpora Cingapura e outros dois territórios peninsulares (Penang e Malaca) em um único Estabelecimento dos Estreitos, que passa a ser colônia britânica em 1867.
Após breve ocupação japonesa durante a II Guerra Mundial, o Estabelecimento dos Estreitos é desintegrado, em 1846, e Cingapura se torna separadamente colônia britânica. Obtém autonomia administrativa em 1959. Em 1963, incorpora-se à Federação Malaia (atual Malásia). A união fracassa por causa das tensões entre os malaios predominantes na Federação e as comunidades de origem chinesa de Cingapura. Em 1965, o país passa a ser independente.
Coréia do Sul – A Coréia do Sul possui dois mil anos de história em comum com a Coréia do Norte. O Estado Sul Coreano surge em maio de 1948, quando a zona ocupada pelos Estados Unidos, na metade sul da península, torna-se um país independente, sob a liderança do nacionalista Syngman Rhee. Em 1950, a nova Nação é invadida pela Coréia do Norte, dando início à Guerra da Coréia, que dura até o armistício de 1953. Rhee permanece no poder até 1960, quando renuncia em meio a acusações de corrupção. Seu sucessor, Chang Myon, é deposto em 1961, em um golpe militar chefiado pelo general Park Chung Hee. Após ser confirmado no cargo por eleições consideradas fraudulentas, Park instaura uma ditadura militar em 1972.
Lee Kuan Yew torna-se o primeiro ministro em 1959, ainda no período de autonomia parcial, e seu governo se estende até 1990. Em 1999, o Partido da Ação do Povo (PAP),não apóia o presidente Ong Teng Cheong à reeleição. O comitê governamental que organiza o pleito valida apenas uma candidatura, a de Sellapan Ramanathan (S.R Nathan), que é nomeado presidente sem passar por eleição popular.
Taiwan – Conhecida pelos chineses desde os primeiros séculos da Era Cristã, a ilha só é de fato ocupada por eles no século XVII. Antes disso, em 1950, os portugueses estabelecem um entreposto comercial, denominado Formosa. Segue-se breve ocupação de espanhóis, expulsos pelos holandeses em 1642. os chineses ocupam a ilha em 1661 e, mais tarde, transformam a região em sua província. Com a derrota na Guerra Sino-Japonesa, em 1895, a China é obrigada a entregar Taiwan ao Japão. No fim da Segunda Guerra Mundial, a ilha volta à soberania da China, então governada pelo Partido Nacionalista (Kuomintang) de Chiang Kai-Shek. Em 1949, derrotados pelas forças comunistas de Mao Tse-tung, Chiang Kai Shek e os remanescentes de seu governo fogem para Taiwan, formando um Estado à parte, que se intitula a verdadeira República da China. Em 1971, Taiwan é obrigado a retirar-se da ONU, a partir da entrada da China no organismo. Em conseqüência, Taiwan vê rompidas suas relações diplomáticas com quase todas as Nações do mundo. Seu comércio externo, porém, intensifica-se.
Hong Kong - As origens dessa singularidade de Hong Kong estão na política expansionista britânica do século 19. Hong Kong - “Porto do Aroma”, em mandarim - era só um remoto vilarejo de pescadores no ano de 1841 quando, de Londres, a recém-empossada rainha Vitória, nada vitoriana, ordenou a invasão da ilha. Sua Majestade estava à procura de algum porto estratégico no Oriente para ancorar os rendimentos de um produto derivado de uma flor. Não, não era a inocente bauhínia.
Mas a papoula, matéria-prima do ópio, um dos mais lucrativos negócios da Coroa.Vencida a resistência militar chinesa, os ingleses tomaram posse da ilha, mas deram com os burros na falta d’água. Embora a China se orgulhe de uma portentosa bacia hidrográfica de 1 500 rios, nenhum deles passa em Hong Kong. Devido a essa carência, os ingleses anexaram uma área do continente, a Península de Kowloon, a apenas 2 quilômetros da ilha, para ter acesso às águas do Rio Tong Kong. Não se deram por satisfeitos. Em 1898, ocuparam outra área no continente, rebatizada de Novos Territórios, e, na barganha, ainda agregaram ao império as 235 ilhotas ao sul de Hong Kong, que formam uma espécie de Angra dos Reis do Pacífico.
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